CARTA POLÍTICA do
Coletivo
Anarquista Ademir Fernando
“Abaixo e a esquerda esta o Coração”
EZLN – Exercito Zapatista de Libertação
Nacional
O Coletivo Anarquista
Ademir Fernando (CAAF) é um agrupamento político anarquista especifista,
federalista de estrutura horizontal que busca atuar como minoria ativa - sem
transformar os movimentos sociais em aparelhos, visando sempre imprimir um
caráter combativo e revolucionário a estes. Tem por objetivo finalista alcançar
uma sociedade com bases no comunismo - anarquista; a autogestão socioeconômica
e o federalismo político. “O projeto
político e social do anarquismo é uma sociedade livre e antiautoritária, que
conserve a liberdade, a igualdade e a solidariedade entre os seus membros”. Entendemos
que o anarquismo tem a obrigação de interferir na realidade, de modo á alterar
a vida material das pessoas e não só se limitar ao plano das idéias; para
modificar a realidade da sociedade em que vivemos é preciso atuar nas mais
diversas lutas populares, no bairro, na fábrica, no campo, na universidade,
etc.; pois para nós "o anarquismo
não se origina de reflexões abstratas nem de um intelectual ou filosofo, mas
sim da luta direta de trabalhadores contra o capitalismo, das carências ou
necessidades dos trabalhadores, das suas aspirações à liberdade e igualdade,
aspirações que se tornam particularmente vivas no melhor período heróico da
vida e luta das massas trabalhadoras"[1].
O anarquismo como corrente política do socialismo tem
sua origem no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores – AIT, na ala
antiautoritária ou federalista em oposição ao socialismo reformista, legalista
ou estatista formada pelos marxistas. Com o passar dos anos o anarquismo
desenvolveu-se teórica e praticamente vindo a contribuir de maneira impar nas
lutas sociais, como na Revolução Mexicana, Revolução Russa, do anarquismo
Bulgaro, assim como na Greve Geral de 1917 aqui no Brasil que colocou São Paulo
nas mãos dos trabalhadores, na Insurreição de 1918 no Rio de Janeiro, bem como
na Greve Geral de 1919 na Bahia que em muito repercutiu aqui no Recôncavo, como
na Federação dos Trabalhadores Bahianos que teve ativa participação na greve de
XIX de orientação ao sindicalismo revolucionário que na época estava ligado a
Confederação Operária Brasileira – COB então celeiro de anarquistas, da
Revolução Espanhola em 1936, da luta na Coreia do Norte contra a invasão dos
EUA.
“Por outro lado, em determinados
contextos o anarquismo assumiu certas características que lhe retiraram este
caráter ideológico, transformando-o em um conceito abstrato, que passou a
constituir-se tão somente em uma forma de observação crítica da sociedade. Com
o passar dos anos, este modelo de anarquismo assumiu uma identidade própria,
encontrando referências na história e, ao mesmo tempo, perdendo seu caráter de
luta pela transformação social. Isso se evidenciou, de maneira mais gritante,
na segunda metade do século XX.”[2]
Sendo este
modelo de anarquismo que chegou aos nossos dias, um anarquismo fora das lutas
sociais, funcionando como um passa tempo, um tema de debate intelectual, uma
curiosidade, um nicho de acadêmicos e todo o tipo de loucos e pequenos
burgueses. O que para nós representa uma forte ameaça ao que é o anarquismo.“O anarquismo social está radicalmente em
desacordo com o anarquismo que é focado no estilo de vida, a invocação
neo-situacionista ao êxtase e a soberania do ego pequeno burguês que cada vez
contrai-se mais. Os dois divergem completamente em seus princípios de definição
– socialismo ou individualismo”[3]entendemos
o anarquismo como uma ferramenta de luta de classe, por tanto como filhos e
filhas do povo devemos estar organizados para servirmos de centelha para a
Revolução Social, um anarquismo negro, indígena e latino-americano como sempre
foi aqui em nosso continente irmanado com outros companheiros de outras terras
e outras línguas.
A Bahia sempre
foi um grande Quilombo, uma grande Canudos, aprendemos a resistir aos coronéis,
aos capitães do mato, aos jagunços escrevendo nossa história ora com a poesia
dos repentistas, nas ladainhas dos capoeiras, nas cantigas de louvor aos Orixás
de Candomblé ora na ginga e na navalha, no cano de uma espingarda ou de um
Parabelum, numa mandinga de Candomblé.
Nesta
universidade o Coletivo Anarquista Ademir Fernando nasce da luta desencadeada
no primeiro semestre de 2010 por um grupo de estudantes pelo direito de
permanecer e estudar em uma universidade, grupo este que ficou conhecido como
os Embarracados do CAHL ou Acampamento Remanescentes, a luta destes estudantes
que também é uma luta pelo direito da população afrodescendente ao acesso a
universidade foi, não apenas uma luta por uma bolsa ou o acesso a uma
Residência Universitária que até então não existia, mas uma luta contra um
projeto de universidade branca e elitista. Desta luta que foi enfrentar a
Administração Central desta universidade, da Direção deste Centro - que por
todos os meios tentou expulsão da universidade até com ameaças de reintegração
de posse, passando pela Pró Reitoria de Ações e Políticas Afirmativas, e que
culminou na morte em circunstâncias misteriosas de um dos estudantes ocupantes,
estudante este que veio dar nome ao nosso coletivo político. A morte de Ademir
Fernando de Senna Gonçalves[4]
(24 anos) continua até hoje sem esclarecimento tornado-se mais uma estatística
de jovem negro que morre antes dos 29 anos.Esta universidade reconhecidamente “branca e estruturamente”[5]
racista pouco ou nada fez para que fosse solucionada.
É nesta terra
conhecida de Recôncavo onde aportaram muitos escravos para os engenhos de
açúcar e onde também se fez independente a Bahia, expulsando os colonizadores
no chumbo, na capoeira e na mandinga que nos afirmamos e levantamos nosso punho
em revolta, num grito de liberdade. Que em cada companheiro de luta possa
pulsar o sangue de Maria Felipa mulher negra que afundou quarenta e duas
embarcações portuguesas na guerra de independência, o espírito de luta e
rebeldia que cada negro, Bantu, Nagô, Haussás, Jeje que fugiu para os Quilombos
e de lá resistiu à escravidão.
Com os Oprimidos e Contra os Opressores
Sempre!
Cachoeira,
03 de abril de 2012.
Coletivo
Anarquista Ademir Fernando
Email:
coletivoademirfernando@gmail.com
[1]DieloTrouda. “Plataforma organizativa
por una Unión General de Anarquistas”. Tradução ao espanhol revisada e
corrigida por Frank Mintz.
[2]Federação
Anarquista do Rio de Janeiro, Anarquismo Social e Organização. Rio de Janeiro:
Editora Faisca, 2009, p19.
[3]
Federação Anarquista do Rio de Janeiro, Anarquismo Social e Organização. Rio de
Janeiro: Editora Faisca, 2009, p 21.
[4]
Ademir Fernando de Sena Gonçalves nasceu em Conceição do Almeida, amante da
poesia sonhava fazer letras. Passou em quatro vestibulares no ano (2010) que
ingressou na UFRB no curso de Cinema e Vídeo vindo a estudar no Campus de
Cachoeira – CAHL, na manhã do dia 10 de junho de 2010 seu corpo foi encontrado
nas águas do Rio Paraguaçu por um pescador, embora não tenha sido afogamento
sua causa mortes continua sem solução e o coração de sua mãe e seus irmãos e
irmã sem paz e sem respostas para perda tão trágica deste jovem negro cheio de
sonhos.
[5] Palavras
do Reitor Paulo Grabriel Nassif Soledade no 4º Conselho de Entidades de Base –
CEB de Cachoeira em junho 2011, arquivos do Coletivo Anarquista Ademir Fernando
e do CEB.
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